13 dez ARTIGO: ÉTICA NAS RELAÇÕES LABORAIS
ARTIGO: ÉTICA NAS RELAÇÕES LABORAIS
Claudete Inês Pelicioli
Advogada em Florianópolis/SC/Brasil
Doutoranda pela Universidade de Buenos Aires/Ar
(19/11/2012)
1. INTRODUÇÃO
O tema da investigação jurídica é a Ética aplicada às relações laborais.
O problema que se apresenta é o conflito de forças entre empregado e empregador, algumas vezes, lideradas por sindicatos, cada qual primando por tirar o máximo proveito para o seu lado.
Por um lado, prevalece que o empregador visa a utilização da mão-de-obra para atender a uma demanda e para extrair o máximo de lucro do seu negócio; por outro lado, o empregado coloca à disposição do empregador a força do seu trabalho, em troca de um salário. Ambos buscam o máximo proveito com o mínimo esforço.
Prevalece que, por um lado o empregador quer pagar o menor salário para o melhor trabalho e por outro lado o empregado quer o maior salário com o menor esforço.
A pergunta que se faz é: é possível conciliar os interesses entre empregado e empregador? Como?
Constata-se que as relações do trabalho estão focadas nos direitos individuais das partes envolvidas, sem a contrapartida dos deveres e da responsabilização.
Na minha área profissional, como advogada, cuja atuação é voltada à prática, para resolver problemas do cotidiano, pretendo através da pesquisa científica sobre ética, demonstrar a sua importância nas relações laborais.
Não tenho a pretensão de resolver a questão, que vem desde a época da revolução industrial, senão antes, do trabalho escravo, no entanto, é necessário buscar na história uma luz para a minimização do conflito, o que se pretende fazer mediante o estudo e aplicação da ética nas relações laborais e que, pode parecer, a princípio, ousadia, mas que, na verdade é aplicação do conhecimento já ensinado há séculos e à disposição de todos.
A justificativa e importância deste discurso é fazer refletir sobre as relações do trabalho e como a ética e a moral podem contribuir para o seu melhoramento.
O estudo tem como objetivos específicos: a) definir ética e moral; b) discorrer sobre o bem, as virtudes, a felicidade, a mediania, tendo como base Aristóteles c)fazer um paralelo entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade de Max Weber; d) a aplicação da ética e da moral nas relações laborais como forma de conscientização e de responsabilização.
Por fim, pretende-se abrir a necessidade de se ter consciência sobre os rumos que a sociedade está tomando e provocar uma tomada de responsabilidade para a busca do bem comum.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. ÉTICA e MORAL
Muito se confunde a ÉTICA com a MORAL, pelo que, conceituam-se os termos, apontando-se as suas semelhanças e as suas diferenças.
No conceito do professor Alécio Vidor (p. 202) tem-se que:
“ÉTICA: é o termo grego que, em sua etimologia, significa costume, uso ou modo de ser. A ética adquiriu, através do uso, mais a conotação de comportamento individual e profissional.
“MORAL: é o termo latino que, etimologicamente, significa costume, vontade, princípio. A moral é a conformidade do comportamento ao princípio previsto em lei ou baseado no costume. Moral ou ética significam o comportamento segundo o uso. A moral tende mais a significar o aspecto da conduta social, legal e dos costumes grupais. A moral e a ética têm por objeto específico a vontade e, neste caso, significam a conformidade das decisões e das ações ao princípio positivo da vida, ao modo de ser humano. Existem, portanto, duas morais ou éticas: a moral que busca entender as necessidades da própria vida e respeitá-las, a moral do bem e, quando não se conformar com elas, a moral do mal. A moral social é mais a conformidade do comportamento às leis e a moral da religião, além das leis, buscam-se a conformidade à própria consciência baseada na fé. ´(Alécio, p.202).
Pelo visto, na etimologia das palavras ética e moral significam a mesma coisa, dizendo respeito ao comportamento humano, sendo uma mais utilizada no âmbito individual e profissional (ética) e outro no social (moral).
Um artigo apresenta a diferença como sendo:
“ÉTICA: são normas individuais, ou seja, um conjunto de condutas tomadas por uma pessoa sem que necessitem de leis para isso, ela segue essas normas pelo simples fato de SABER que elas são CORRETAS.
MORAL: são normas sociais, ou seja, um conjunto de condutas pré-estabelecido por uma sociedade, e que são consideradas corretas PELO GRUPO, e não por um único indivíduo. ”
Neste mesmo sentido, o professor EBER BETANZO esclarece que Ética é Gênero e Moral é Espécie e que a Moral é relativa ao social e a Ética tem caráter individual.
Em artigo sobre ÉTICA E MORAL de ANTONIO PAIVA RODRIGUES , colhe-se:
“Alguns diferenciam ética e moral de vários modos:
1. Ética é princípio, moral são aspectos de condutas específicas;
2. Ética é permanente, moral é temporal;
3. Ética é universal, moral é cultural;
4. Ética é regra, moral é conduta da regra;
5. Ética é teoria, moral é prática.”
Há também os que defendem que a ética está no plano da teoria e da reflexão (interno), já a moral está no plano da conduta, da prática (comportamento externo), senão vejamos:
“Semelhanças e Diferenças Entre Ética Moral e Lei
Semelhanças e diferenças.
A moral tem um caráter prático imediato, visto que faz parte integrante da vida cotidiana da sociedade e dos indivíduos, mas também porque está presente no nosso discurso e influencia os nossos juízos e opiniões. A ética, pelo contrário, é uma reflexão filosófica, logo puramente racional, sobre a moral. Assim, procura justificá-la e fundamentá-la, encontrando as regras que, efetivamente, são importantes e podem ser entendidas como uma boa conduta a nível mundial e aplicável a todos os sujeitos, o que faz com que a ética seja de caráter universalista, por oposto ao caráter restrito da moral, visto que esta pertence a indivíduos, comunidades e/ou sociedades, variando de pessoa para pessoa, de comunidade para comunidade, de sociedade para sociedade. O objeto de estudo da ética é, portanto, o que guia a ação: os motivos, as causas, os princípios, as circunstâncias; mas também analisa as consequências dessas ações. A moral também se apresenta como histórica, porque evolui ao longo do tempo e difere no espaço, assim como as próprias sociedades e os costumes. No entanto, uma norma moral não pode ser considerada uma lei, apesar da semelhança, porque não está escrita, mas sim como base das leis, pois a grande maioria das leis é feita tendo em conta normas morais. Outra importante característica da moral (e esta sim a difere da lei) é o fato desta ser relativa, porque algo só é considerado moral ou imoral segundo um determinado código moral, sendo este diferente de indivíduo para indivíduo. Finalmente, a ética tem como objetivo fundamental levar a modificações na moral, com aplicação universal, guiando, orientando, racionalmente e do melhor modo a vida humana.
Ética: conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão.
Moral: conjunto de regras que trata dos atos humanos, dos bons costumes e dos deveres do homem em sociedade e perante os de sua classe. ”.
2.2. O BEM, A FELICIDADE, AS VIRTUDES, A MEDIANIA SEGUNDO ARISTÓTELES
Para Aristóteles o bem é a finalidade de todas as coisas.
A Ética serve como condução do ser humano à felicidade, sendo esta o fim último do ser humano.
Felicidade maior para Aristóteles encontra-se na vida teórica, que promove o que há de mais especificamente humano: a razão.
Agir corretamente ou bem seria praticar as virtudes.
VIRTUDE: “A virtude moral é um meio-termo entre dois vícios, um dos quais envolve o excesso e outro deficiência, e isso porque a sua natureza é visar à mediania nas paixões e nos atos”.
Aristóteles defende a ética do meio termo , onde a virtude consistiria em procurar o ponto de equilíbrio entre o excesso e a deficiência, em conformidade com a justa razão.
Assim, defende três disposições: dois vícios (um de excesso e outro de deficiências) e uma virtude, que é a observância da mediania (op. cit. p.82).
O professor EBER BETANZOS assim se referiu sobre as ações boas:
“En cuanto al criterio de valoración moral hay que considerar que éste debe desarrollarse en el contraste entre el subjetivismo y el relativismo moral basándose en principios objetivos y universales siendo que las acciones serán moralmente buenas si se conforman con la recta razón que perfecciona al hombre trascendentemente y serán malas si lo perjudican –lo que excluye lógicamente la participación de la recta razón en ella–.”
Virtude é disposição e resulta de ações justas e moderadas (op. cit. p. 73).
A virtude no ser humano será a disposição que o torna um bom ser humano e que também o fará desempenhar a sua função bem (op.cit. p. 75).
As virtudes segundo Aristóteles são um bem maior que honra, a finalidade da vida (op. cit. p. 43).
Nas lições do Prof. EBER BETANZOS classifica e distingue as virtudes, conforme segue:
En la virtud se comprenden hábitos entitativos –en cuanto al ser– y operativos –en cuanto a la operación–. Los hábitos operativos se dividen de la siguiente manera: a) del entendimiento especulativo –ciencia, inteligencia y sabiduría– o práctico –arte y prudencia– o b) de la voluntad – justicia, fortaleza y templanza–.
Las virtudes son las energías inmateriales que disponen a nuestra inteligencia y voluntad para que actuemos ajustándonos a la ley natural, según la conciencia moral. Pueden ser naturales o adquiridas.
Las virtudes también se pueden dividir en intelectuales –que vigorizan la facultad del entendimiento– y morales –que vigorizan la facultad de la voluntad–. Estas fuerzas son inmateriales, como es inmaterial la inteligencia y la voluntad.
ARISTÓTELES la definió como una disposición de acuerdo con la cual algo se halla bien o mal dispuesto, ya sea hacia sí mismo o hacia otro. Es adquirida y contiene dentro de sí um determinado orden. Su importancia radica en la conexión con las virtudes e implica la perfección repetida y estable (?ξις –hexis– “Estado”) de las facultades operativas humanas intelectuales – virtudes intelectuales o dianoéticas– y apetitivas –virtudes morales o éticas– en orden al perfeccionamiento del hombre. Los hábitos intelectuales positivos –virtudes intelectuales– no hacen bueno al hombre sino sólo en cuanto al intelecto. Los hábitos que hacen bueno al hombre son los dirigidos a la voluntad –virtudes Morales
En concreto para ARISTÓTELES la virtud se manifiesta en un doble aspecto: uno intelectual, otro moral; la virtud intelectual proviene en su mayor parte de la instrucción o educación, mientras que la virtud moral es hija de los buenos hábitos. En este contexto se habla de virtudes morales, que son las que resultan de aplicar la razón a la vida, de conducirse en la vida razonablemente y las virtudes del entendimiento, que son las que se refieren a la vida en la razón.
Las virtudes éticas o morales se adquieren a través de la costumbre o el hábito y consisten, fundamentalmente, en el dominio de la parte irracional del alma –parte sensitiva– y en regular las relaciones entre los hombres. Las más importantes virtudes éticas o morales son: la fortaleza – término medio entre el miedo y la audacia–, la templanza –moderación frente a los placeres y las penalidades–, la justicia –parte del total de las virtudes que tiene como objeto la distribución–. A las virtudes morales también se les designa con el término virtudes volitivas y son las que le otorgan al hombre el dominio sobre sí mismo, tanto en su vida personal como social y guardarán el equilibrio entre las opciones y las realizaciones del individuo. Esto es, las virtudes éticas o morales representarán los criterios racionales para la regulación de la adquisición, posesión y uso de los bienes humanos que nos permitirán jerarquizar, en orden a la virtud, las actividades humanas (RODRÍGUEZ).
Las virtudes intelectuales rigen sobre las virtudes morales y se dividen en virtudes que atienden a los saberes contingentes –arte, prudencia– y a los saberes necesarios –ciencia, intuición, sabiduría–, siendo que la conformación práctica de la virtud perfecta está dada por la norma que dicta el hombre prudente.
A mayor detalle en el estudio que realiza ARISTÓTELES sobre la virtud establece que existen dos clases de virtudes: virtudes éticas o morales y virtudes dianoéticas o intelectuales.
Las virtudes morales se refieren al modo de vida del hombre activo, que conduce su vida con prudencia y las virtudes del entendimiento se refieren al ideal de vida del hombre contemplativo. Implican una dimensión afectiva, al dirigirse a la voluntad; una dimensión disposicional, al predisponer la decisión moralmente adeuada en cada caso y una dimensión normativa, al ser el principio de la razón práctica que indica lo que se debe hacer o no hacer.
Ambas expresan la excelencia del hombre y su consecución produce la felicidad, ya que ésta última es “la actividad del hombre conforme a la virtud”. Será entonces a través de las virtudes como el hombre domina su parte irracional.
En concreto para ARISTÓTELES la virtud se manifiesta en un doble aspecto: uno intelectual, otro moral; la virtud intelectual proviene en su mayor parte de la instrucción o educación, mientras que la virtud moral es hija de los buenos hábitos. En este contexto se habla de virtudes morales, que son las que resultan de aplicar la razón a la vida, de conducirse en la vida razonablemente y las virtudes del entendimiento, que son las que se refieren a la vida en la razón.
SINTETIZANDO, o professor EBER BETANZOS ensina que:
“La finalidad del hombre, siguiendo a ARISTÓTELES, es la felicidad, y todos los actos virtuosos que se encaminen a alcanzarla representarán el bien último de la vida racional como pueden ser la templanza, la fortaleza y en especial la justicia. La virtud es, entonces, la excelencia que nos levanta por encima de los condicionantes naturales individuales y constituye un reflejo colectivo de las afecciones primarias compartidas, constituyéndose así como um término medio desde el punto de vista del bien y de la excelencia.”.
Aristóteles defende que não basta a teoria, deve haver também a prática para nos tornarmos bons:
“Entretanto, como sustentamos, no domínio das ciências práticas o fim não é alcançar um conhecimento teórico dos vários assuntos, as antes levar nossas teorias à ação. E, se assim é, saber o que é virtude não basta. É forçoso que nos empenhemos em possuí-la e praticá-la ou, de alguma outra forma, nos tornarmos nós mesmos bons” (op.cit. p. 313).
2.3. A ÉTICA DA CONVICÇÃO E ÉTICA DA RESPONSABILIDADE
Depois de estudarmos a ética e a moral, assim como o seu objeto -o bem-, a sua finalidade -a felicidade-, os meios ou instrumentos para chegar a ela,-as virtudes e a forma ou o como –a mediania, passa-se a estudar uma outra distinção da ética, que trata da ética da convicção e a ética da responsabilidade, na visão de Max Weber.
O conceito:
“O critério da ética da convicção é geralmente usado para julgar as ações individuais, enquato o critério da ética da responsabilidade se usa ordinariamente para julgar ações de grupo, ou praticadas por um indivíduo, mas em nome e por conta do próprio grupo, seja ele o povo, a nação, a Igreja, a classe, o partido etc. Poder-se-á também dizer, por outras palavras, que à diferença entre moral e política, ou entre ética da convicçao e ética da responsabilidade, corresponde também à diferença entre ética individual e ética de grupo”. (Norberto Bobbio, Política como ética de grupo, in Dicionário de Política).
“A base dessas duas modalidades de ética está nos tipos de ação social. A ação social racional orientada a fins é a base da ética da responsabilidade e a ação social racional orientada por valores está na base da ética da convicção. ”
O idealizador da Teoria da Ética da Convicção e da Ética da Responsabilidade, Max Weber, dispõe sobre o assunto na obra Ciência e Política: duas vocações , conforme se colhe abaixo:
“Efetivamente, todos esses objetivos que não é possível atingir a não ser por meio da atividade política – em que necessariamente apela-se a meios violentos e se acolhem os caminhos da ética da responsabilidade – colocam em perigo a “salvação da alma”. E caso se procure atingir esses objetivos ao longo de um combate ideológico orientado por uma ética da convicção, corre-se o risco de provocar enormes danos e descrédito, cujas repercussões se farão sentir durante inúmeras gerações, porque não existe responsabilidade pelas consequências (op.cit. p. 122).
Na mesma obra, WEBER (op.cit. p. 123) refere-se aos partidários da ética da convicção, na sua maior parte, como: “balões cheios de vento, sem consciência das responsabilidades que assumem e embriagados de sensações românticas”.
“Portanto, tudo indica que é o problema da justificação dos meios pelo fim que, de forma geral, coloca em cheque a ética da convicção” (p. 116)
Aristóteles cita a atitude de um homem maduro que se sente de fato e com toda a alma, responsável pelas consequências de seus atos e que, praticando a ética da responsabilidade, chega, em determinado momento, a declarar: ‘Não posso agir de outro modo; paro por aqui’. Uma atitude dessa é autenticamente humana e é comovedora. Qualquer um de nós, que não tenha ainda a alma totalmente morta, poderá vir a encontrar-se nessa situação. Dessa forma, vemos que a ética da convicção e a ética da responsabilidade não se contrapõem, mas se complementam e, juntas, formam o homem autêntico, ou seja, o homem que pode aspirar à vocação política. (op cit. p. 123).
“Nenhuma ética pode dizer-nos em que momento e em que medida um motivo moralmente bom justifica os meios e as consequências moralmente perigosas”. (p. 115).
Dos ensinamentos acima, extrai-se que a ética da convicção não tem sentido sem a ética da responsabilidade, da mesma forma que a ética da responsabilidade é “temerária” sem a observância da ética da convicção, uma vez que se poderia pensar que todo e qualquer meio justificaria o fim, o resultado.
Assim, aplicando-se as duas éticas em conjunto se tem a teoria, baseada nos princípios e no bem, acoplada à prática baseada no resultado.
Finalizando, a política, pode ser aplicada na convivência social e nas relações laborais, que é definida como sendo: “a arte de centralizar as diferentes situações e de resolvê-las em progresso, para eficiência do todo ”.
2.3. APLICAÇÃO DA ÉTICA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO
A esse ponto é necessário ingressar no núcleo do trabalho e dizer a que se presta a ética nesse campo prático das relações laborais.
Fez-se um estudo sobre ética e de como poderia contribuir para a diminuição dos conflitos sociais, em especial no tocante às relações de trabalho.
Nota-se que os ensinamentos sobre o assunto abordado – ÉTICA- pode ser aplicado em qualquer campo da vida do homem.
Então, como aplicar a ética nas relações laborais?
Como dito, ab initio, o problema abordado é o conflito nas relações entre empregado e empregador, em que cada qual quer tiver a maior vantagem da situação.
Então, a ética tanto do empregado como do empregador, pode ser aplicada em diversos sentidos: no que diz respeito ao conhecimento (interna), como em relação à conduta social ou moral (externa) e no que diz respeito à vontade e à responsabilidade.
Portanto, a ética é uma disposição que depende dessa Unidade de fatores: conhecimento, conduta, vontade e responsabilidade.
No que ser refere à ética da convicção e à ética da responsabilidade, da mesma forma, a pessoa pode ter as suas convicções internas, sem se esquecer da responsabilidade externa, no agir e na convivência para com os outros.
Nesse contexto, pode-se dizer que o caminho para se melhorar as relações laborais, passa pelo caminho do conhecimento, prática do conhecimento e responsabilização. É impossível falar com alguém sobre virtudes, conduta, meio termo, se a pessoa não tem essas noções básicas do ser e agir humano.
Os valores devem ser questionados, pois é difícil falar do ser, se a premissa da pessoa somente o ter, eis que vivemos sob a economia capitalista.
É difícil falar de responsabilidade, se a pessoa tem sua convicção fulcrada somente nos direitos, sem o contra ponto dos deveres.
É difícil mudar o rumo da sociedade e das relações sociais e laborais, antes de ampliar a racionalidade e mudar a conduta da sociedade (costumes e hábitos).
O homem e, como reflexo, o corpo social, está com deficiência de princípios, de valores, está sem base para se conduzir: perdeu o rumo, diante da ignorância, da falta de conhecimento.
A falta de conhecimento, ou seja, a ignorância, deixam o homem em desvantagem, não conseguindo ter a amplitude intelectual para encontrar a solução para os problemas que se apresentam. Tem uma visão estreita de si e do mundo.
Como fazer dialética com alguém sobre as virtudes, os vícios, o bem e o mal, a felicidade, de princípios, se tais questionamentos não fazem parte da sua jornada?
Como pensar no sentido da vida, no ser, na transcendência, se a pessoa vive somente para o ter, sendo esse o valor máximo que conhece?
De tudo isso, se vê que houve a evolução dos meios tecnológicos, da medicina, da informática, dos meios de comunicação, etc., encontrando-se em paradoxo com a involução do ser humano, que se encontram cada vez mais ignorante no tocante às questões da vida, da existência e da convivência social.
4. CONCLUSÃO
Verifica-se que faltam princípios de base para o ser humano pensar sobre si mesmo e se questionar sobre o verdadeiro sentido de ser e da existência.
Em meio a informação da mídia e tecnologia, da necessidade de consumo, o ser humano está voltado mais para o ter do que para o ser.
Há algum tempo a FILOSOFIA foi excluída do currículo escolar, e os questionamentos sobre a metafísica, a ética, a moral e a crítica, não se fazem mais presentes na mente dos jovens e nos discursos da sociedade.
Hoje, o contato é com o computador, o iphone, a internet, o facebook, menos com a essência.
O homem tornous-se superficial e imediatista, deixando de lado as questões existenciais e profundas.
A manifestação social dessa mudança revela um elevado nível de corrupção, em todos os setores, muitas pessoas “vendem-se” sem se dar conta do resultado deste ato na sua existência e na sociedade.
Na profissão, especificamente no direito, não é diferente: muitos jovens brilhantes formam-se e vão fazer concurso público, em busca de “estabilidade”, não se perguntam se é aquilo que gostariam de fazer, se faz parte do seu projeto de vida, só lhes interessa quanto vão ganhar.
Assim, se constata a venda da alma do homem e é triste porque só se darão conta do engodo quando talvez seja tarde demais, quando a alma já estiver na tumba.
O reflexo de todo esse “evoluir” desastroso, reflete-se nas relações de trabalho, isso porque ambas as partes da relação concentram-se no ter, mas não no fazer, no contribuir, no construir, em ser.
O trabalho é o meio pelo qual se constrói o projeto de vida, desenvolvem-se as capacidades, gera-se prazer, satisfação, evolução e bem estar para si, com reflexos na sociedade.
O que falta para todos é um nível mais profundo de consciência das questões ligadas ao ser: quem sou? O que quero? Para onde vou? Como faço? etc.
Falta conhecimento e interesse sobre as virtudes.
Parece que esta dimensão da busca está meio esquecida. Hoje pergunta-se apenas: quanto vou ganhar? quanto custa? Passou-se do que é para o quanto custa. E, o dinheiro passou a ser visto como o único meio para se chegar à felicidade.
Neste sentido, a proposta deste trabalho é apontar uma estrada para que tais questionamentos retornem à família, às escolas, às empresas, à sociedade.
Se a pessoa que está por trás do negócio não sabe quem é, não sabe o que quer e não sabe para onde ir, como pode apontar o caminho para alguém? Como pode motivar os colaboradores, se estes ambos estão perdidos?
Penso que, para melhorar as relações sociais e laborais, primeiro tem-se que melhorar o homem, seja ele visto como empregado, que como empregador, ressalvando que a responsabilidade do líder é muito maior, pois compete a ele a condução da empresa.
Nesse sentido, fala-se do PIB brasileiro, do desenvolvimento do Brasil, do grande ingresso de capital e de investimentos, ou seja, fala-se que estamos caminhando rumo à riqueza.
Então, porque não empregar essa riqueza para o conhecimento, para o desenvolvimento, para a evolução do ser humano que faz parte e é quem vai construir esse Brasil?
Porque não investir estes recursos na educação do ser humano? Não essa educação caótica de hoje em dia, mas uma educação de verdade, baseado no conhecimento mais profundo e no desenvolvimento do homem como ser humano individual e social.
Aristóteles ensina que: “O solo tem que ser previamente arado se quisermos que a semente germine, a alma do discípulo tem que ser previamente preparada através do cultivo de hábitos, de maneira que ele saiba e possa gostar do que é certo e desgostar do que é errado; (…)”(op.cit. p.314).
Aqui se pode perguntar: mas o que é certo e o que é errado? Também aqui entra o conhecimento, pois a amplitude intelectual nos permite maior clareza para avaliar o que é certo e o que não é.
No entanto, como dito, existem princípios universais, que podem ser base para que o ser humano possa ser e viver melhor, praticando o bem, podendo chegar a tão desejada felicidade, assim contribuindo, com responsabilidade, para uma sociedade mais pacífica.
Acredito que a filosofia poderia em muito contribuir para tornar o ser humano melhor.
Sobre responsabilidade social colhem-se as lições de Antonio Meneghetti :
“3) Il criterio sociale significa che um individuo di per sé ha dei diritti e doveri, ma como ricco industriale , ad esempio, sará rico nella misura in cui fará ricchi anche gli altri che lavorano, perché se non lavorano e non stanno bene, com il tempo anche l’industriale finisce male.”
Assim, se quisermos melhorar as relações sociais e laborais, primeiro temos que melhorar o homem que está por trás do processo, com base na instrução e na educação. Ressalva-se não só a ética, mas a educação como um todo, incluindo a música, as artes, a história, o conhecimento em geral, no sentido de desenvolvimento de capacidades.
A conclusão final é que o ser humano como ser integral deve evoluir, deve saber, compreender, deve ser estimulado a desenvolver a sua intelectualidade e as suas aptidões. Assim, poderemos ter uma sociedade com mais consciência e mais capacitada para resolver as suas diferenças e os seus conflitos.
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13. Congresso Internacional Responsabilidade e Reciprocidade – Valores Sociais para uma Economia Sustentável FUNDAÇÃO ANTONIO MENEGHETTI & FACULDADE ANTONIO MENEGHETTI, Recanto Maestro-RS, de 04 e 05 de novembro de 2011.
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